O
pedreiro Joaquim Gomes desembarcou em Brasília no início dos anos 70 para fugir
da pobreza na qual vivia em Paracatu, Minas Gerais. Trouxe junto a esposa, a faxineira
Benedita, e os oito filhos. Dentre eles, estava o jovem Joca, que tinha um
objetivo muito claro: fugir da irrelevância – sina reservada a milhares de
negros, pobres e migrantes como ele. Começou fazendo bicos – inclusive como
faxineiro. Dedicado, acabou sendo chamado para trabalhar como datilógrafo na
gráfica do Senado.
DETERMINAÇÃO
Uma das principais características de Barbosa que o levou
aonde chegou foi a determinação –
algo que ficou claro durante o julgamento do mensalão, mas que sempre o acompanhou.
O trabalho na gráfica do Senado, seu primeiro emprego, não era exatamente atraente, mas ele não tinha
escolha. O jovem Barbosa trabalhava das 18h às 4h da madrugada
datilografando textos para o Jornal do Senado. Nesse período, passou no vestibular para Direito, na
Universidade de Brasília (UnB), e teve que se desdobrar para se manter na
faculdade e no trabalho.
Segundo antigos colegas, algumas vezes, Barbosa dormia na oficina
porque não sobrava tempo para voltar para casa. Ainda assim, fazia seu trabalho
direito. “Ele era compenetrado, muito atento no serviço”, atesta o
ex-coordenador de produção Mário César Pinheiro Maia, chefe de Barbosa na
gráfica e ainda hoje amigo do ministro.
“Quando ele não estava trabalhando, estava estudando. Teve uma vida
sofrida, mas era bom menino”, lembra José de Lourdes, parceiro de Barbosa em
longas madrugadas de trabalho.
Quase sempre calado, Barbosa não aceitava provocação. Segundo
Lourdes, certa vez, um colega faixa preta em judô fez uma brincadeira de mau
gosto. Barbosa rasgou um palavrão e exigiu que o lutador se retratasse. Assim,
impôs respeito.
Na UnB, Barbosa teve uma passagem discreta. No período, os
estudantes estavam divididos entre progressistas, que queriam derrubar a
ditadura militar, e conservadores, alinhados com o regime. Segundo o ex-reitor
da UnB José Geraldo de Sousa, contemporâneo de faculdade do ministro, Barbosa
era um reformista. Queria mudar o sistema, mas dentro das regras estabelecidas.
Apesar disso, diz o ex-reitor, naquele período Barbosa estava mais
concentrado nos estudos do que no movimento estudantil. Ainda na UnB, Ele passou no concurso para oficial de
chancelaria do Itamaraty. A partir daí, a carreira deslanchou. Foi
procurador jurídico do Ministério da Saúde, fez mestrado, doutorado e passou no concurso de procurador do
Ministério Público Federal. Aprendeu a falar francês, inglês e alemão.
IRONIA
Em 2003, quando Lula procurava por um negro para indicar ao STF,
Barbosa já tinha o currículo recheado de referências nacionais e internacionais.
Mas a escolha não foi fácil. Rememorada hoje, a história é cheia de ironias.
O advogado Antonio Carlos “Kakay” de Almeida Castro, que viria a
ser defensor de réus do mensalão, afirma que marcou um encontro de Barbosa com
o então ministro da Casa Civil José Dirceu – classificado pelo hoje presidente
do STF como o chefe da quadrilha do mensalão. Logo depois, o ex- ministro da
Justiça Márcio Thomaz Bastos – outro advogado dos acusados do mensalão – entrou
no circuito e ajudou a assegurar a indicação do então procurador por Lula.
Já como ministro do Supremo, Barbosa acabou sendo designado, em
2007, para relatar o caso do mensalão – esquema que Lula sempre negou ter
existido. “Joca” demonstraria ser implacável com esse caso de corrupção. Hoje,
virou herói nacional da moralidade pública e motivo de satisfação para sua mãe,
Benedita Gomes da Silva. “Estou muito orgulhosa”, disse ela, durante a posse do
filho. O pai – Joaquim como o filho – não teve a oportunidade de ver o auge do
ministro. Morreu há dois anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário